Tuesday 7 January 2014

Vozes Anoitecidas- Mia Couto

Comecei o ano muito bem! Vozes Anoitecidas foi o primeiro livro de contos escrito por Mia Couto , mas só agora chega ao Brasil. Aqui já vemos a escrita prosa-poética, as histórias que misturam fantasia e realidade, a crítica social e política .
Em uma história, um casal de idosos cava a sua sepultura antes que não tenham mais forças para o fazer;em outras, pássaros vem dar avisos aos homens; um homem mata sua mulher temendo que seja uma feiticeira; um pai resolve fazer da filha uma contorcionista como saída para a pobreza da família; uma chinesa e um criador de cobras escondem um segredo terrível; dois mortos aparecem e os habitantes da cidade não sabem o que fazer com os aparecidos; um velho é salvo das águas mas não do tempo; um boi explode por razões aparentemente por vontade dos deuses.
Mia Couto, através de mitos africanos, nos mostra a pobreza, a ignorância, o sofrimento dos oprimidos. Como ele escreve no texto de abertura ; "O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontado com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida a anoitecer as vozes."

Nota:10

Saturday 14 December 2013

Um Conto de Natal de Charles Dickens

Este é o último mês do Desafio Literário e o tema é 'Histórias sobre o Natal". A escolha foi fácil. Nunca tinha lido Christmas Carol, apesar de conhecer bem a história e ter até assistido a adaptações para a tela, portanto aproveitei a oportunidade

Apesar de não ser exatamente o meu estilo de livro por ser descritivo em excesso e muito fantasioso, iniciei a leitura. As descrições muito detalhadas me cansaram um pouco, mas preciso admitir que conseguia imaginar com muita clareza os personagens e  lugares revelados por Dickens. Era como se houvesse, na minha frente, uma gigantesca tela onde se via as ruas, a neve, as casas e as pessoas da Londres pós Revolução Industrial.

A crítica social que Dickens faz a esta sociedade desigual é feroz e nos solidarizamos com os trabalhadores explorados por patrões. Dickens defende claramente  a sua posição contra a injustiça socioeconômica. Os injustos e os exploradores serão punidos, e o castigo é severo.

Scrooge, que é o representante da classe mais abastada, terá o seu castigo. No entanto , lhe é dada uma chance para se redimir. Se ele fizer o bem e for solidário com a classe menos favorecida poderá escapar ao seu destino. Dickens não é fatalista e ainda acredita no livre- arbítrio . Se o ser humano tomar consciência do que pode fazer por um mundo melhor ainda há uma saída. No final ,Scrooge  é salvo e salva as pessoas próximas a ele. Um final feliz e natalino, como deveria ser.

Nota:8

Tuesday 26 November 2013

O Amante de Lady Chatterley de D.H. Lawrence

Este mês o tema do desafio literário é livros banidos. Imediatamente me veio à lembrança este livro tão falado e elogiado e que nunca tinha lido.

É claro que o livro é bem escrito e além do mais precisamos lembrar que foi escrito em 1920. Apesar disto,  não consegui me envolver com a história por mais que tentasse. Achei os personagens sem glamour. Talvez a ideia fosse essa mesma, não sei. Achei as descrições intermináveis.  As discussões dos personagens a respeito dos avanços industriais, das relações entre homens e mulheres, e a luta de classes me entediaram. Não achei nem as descrições do sexo selvagem entre Connie e seu amante especialmente excitantes.

Já tinham me dito que ou se ama D.H. Lawrence ou se odeia. Bem, não posso dizer que odiei , porque preciso admitir que a escrita é elaborada e o tema era revolucionário no início do século XX. É apenas uma questão de gosto. Não vivi o livro, não me afeiçoei aos personagens, não me envolvi nas discussões do livro. Talvez numa outra época da vida.....

Nota: 5

Thursday 31 October 2013

A Culpa é das Estrelas de John Green

Comecei a ler o livro com muita desconfiança. Primeiro lugar na lista de mais vendidos (nem sempre um bom sinal). Um livro para jovens adultos (outra forma de se referir a adolescentes?) . Um livro sobre personagens sofrendo de câncer (deprê?). Realmente jamais leria este livro se não estivesse relacionado com o tema mensal do Desafio Literário e se não tivesse sido tão bem recomendado por uma colega de trabalho.

Preciso confessar que o livro me cativou. Não é que John Green escreve bem! Me apaixonei pelos protagonistas, Hazel e Augustus, altamente inteligentes e dotados de um senso de humor maravilhoso. A doença é apresentada de uma forma realista e sensível, mas em momento nenhum a história fica piegas ou sentimentaloide. Apesar de sabermos que o final certamente será infeliz, torci por Hazel e Augustus e comemorei as suas grandes vitórias.

O título do livro vem de uma fala de Cassius na peça Julio César de Shakespeare em que ele diz a Brutus que a culpa não está nas estrelas e sim em nós mesmos. Mas e no caso de dois adolescentes sofrendo de câncer terminal, onde reside a culpa? Nas estrelas?

O livro discute de uma forma leve e aparentemente despreocupada temas difíceis como :  qual o sentido da vida e da morte, qual  o verdadeiro amor,qual  o consolo para o sofrimento, o que é real, o que é a memória, o que é o tempo, qual o nosso papel no mundo.

John Green, você me surpreendeu. E me cativou definitivamente quando fez Hazel recitar , de cor, um dos meus poemas preferidos :The Love Song of J, Alfred Prufrock de T.S. Eliot. John Green sabe das coisas.

Nota:8


Tuesday 22 October 2013

O Clube do Livro do Fim da Vida de Will Schwalbe

Confesso que quase desisti do Desafio Literário neste mês. O assunto era 'superação'. Olhei a lista dos livros recomendados e o temas relacionados a doenças, acidentes e guerras não me animavam. Mas desistir na reta final do desafio. Não é da minha natureza desistir.

Saindo da ginástica passei na simpática livraria Timbre e conversei com a vendedora que já tinha me salvado em várias ocasiões em que estava na dúvida em relação a que livro comprar  para algum amigo. Contei o meu problema para ela e ela refeltiu por alguns momentos antes de sorrir e levantar em direção à estante. Me mostrou um livro que tinha acabado de ser lançado aqui no Brasil pela Objetiva. Era uma história verídica sobre as conversas entre uma mãe e um filho enquanto ele a acompanhava em suas sessões de quimioterapia. Não sei por que, mas o livro me interessou. Afinal de contas, era um livro sobre livros, e portanto relacionado ao meu desafio, e sobre doença, que seria um desafio maior ainda para mim, por ser um assunto  difícil para mim. O livro não me parecia ser baixo astral , e resolvi levar.

E, para minha surpresa, foi paixão á primeira leitura. Me encantei com os personagens, as suas histórias, as suas vidas, os seus livros. Fui imediatamente à Internet procurar uma entrevista com o autor, fotos da mãe , que foi uma ferrenha defensora de refugiados e imigrantes, para poder dar uma cara a Will e Mary Anne.

'Clube do Livro do Fim da Vida' é sobre amor aos livros, amor à vida e dedicação a causas e pessoas. Não li a maioria dos livros mencionados , mas isso não importa porque o que é interessante é a conversa a respeito dos tópicos e sentir como Will e Mary Anne se envolvem com os personagens e os enredos. Principalmente, o maravilhoso é  entender como os livros ajudaram a superar o sofrimento da doença e aceitar a certeza de que a vida estava realmente no fim. Ou como explica Will, todos nós fazemos parte do clube do livro do fim da vida. Só não sabemos quanto tempo levará este fim. E como não sabemos, devemos ler e saborear cada livro como se fosse o último. E compartilhar cada encontro e cada conversa como se fossem únicos.
Nota:10

Sunday 29 September 2013

O Códex 632 - José Rodrigues dos Santos


O tema deste mês no Desafio Literário é escritores portugueses contemporâneos. Claro que tenho vários livro de Saramago em casa ainda por ler mas aceitei a recomendação de uma outra participante do Desafio e li um autor que para mim era totalmente desconhecido.

O livro me foi apresentado como sendo um 'Código da Vinci' melhorado. É exatamente isso. Seguimos o historiador Tomás Noronha na sua investigação sobre Cristovão Colombo e a sua verdadeira identidade. Tomás decifra códigos, viaja pelo mundo em busca de pistas e ainda tem tempo de ter um caso extraconjugal.

O que me encantou no livro foi a cuidadosa pesquisa de José Rodrigues dos Santos antes de tratar de qualquer tema do livro. Tomás tem uma filha com Síndrome de Down e recebemos uma pequena aula sobre a doença.A amante de Tomás é sueca, e  o escritor nos relata vários aspectos desta cultura. As cidades que Tomás visita nos são descritas detalhadamente. O momento em que a praia de Ipanema nos é apresentada é hilário. Tomás vai se encontrar com um professor de filosofia e recebemos uma pequena aula sobre Kant e Foucalt. Passamos também a conhecer detalhadamente os bastidores dos descobrimentos.

Parece chato e demasiadamente didático? Absolutamente! Chato é quando José Rodrigues se alonga nos aspectos pessoais da vida de Tomás. Confesso que  ás vezes pulava certas partes. Queria chegar logo nas aulas deliciosas de José Rodrigues dos Santos.

E ainda tem a delicia de ler com sotaque. As expressões e as diferenças gramaticais do português de Portugal são uma curiosidade à parte. E é muito engraçado quando Tomás visita o Brasil e o autor tenta, sem sucesso, imitar o linguajar do brasileiro.

Nota: 8

Wednesday 4 September 2013

O filho de mil homens de Valter Hugo Mãe

"Um homem chegou aos quarenta e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo" .

 Então a história é sobre um homem que deseja ter um filho? Sim, mas não é um enredo linear e realista. 

Para Valter Hugo Mãe, nenhuma frase é descuidada, nenhuma palavra é desperdiçada. Os personagens falam pouco, mas dizem muito sobre solidão, preconceito, medos, aprendizados, amor. Uma anã, uma enjeitada, um maricas, orfãos, viúvos, solitários. Todos lidando com a sua solidão e a sua busca pela aceitação de si próprio e dos outros. Todos buscando a coragem de ser o que se é. Porque todos são filhos de mil homens e de mil mulheres e  assim nunca estarão sozinhos nesta viagem ao mesmo tempo complexa e simples que é ser humano. 

O filho de mil homens é um livro para ser saboreado. Cada frase deve ser digerida vagarosamente e devemos nos deixar perder dentro do labirinto narrativo. Um banquete para a mente e a alma

Nota:10