Saturday 14 December 2013

Um Conto de Natal de Charles Dickens

Este é o último mês do Desafio Literário e o tema é 'Histórias sobre o Natal". A escolha foi fácil. Nunca tinha lido Christmas Carol, apesar de conhecer bem a história e ter até assistido a adaptações para a tela, portanto aproveitei a oportunidade

Apesar de não ser exatamente o meu estilo de livro por ser descritivo em excesso e muito fantasioso, iniciei a leitura. As descrições muito detalhadas me cansaram um pouco, mas preciso admitir que conseguia imaginar com muita clareza os personagens e  lugares revelados por Dickens. Era como se houvesse, na minha frente, uma gigantesca tela onde se via as ruas, a neve, as casas e as pessoas da Londres pós Revolução Industrial.

A crítica social que Dickens faz a esta sociedade desigual é feroz e nos solidarizamos com os trabalhadores explorados por patrões. Dickens defende claramente  a sua posição contra a injustiça socioeconômica. Os injustos e os exploradores serão punidos, e o castigo é severo.

Scrooge, que é o representante da classe mais abastada, terá o seu castigo. No entanto , lhe é dada uma chance para se redimir. Se ele fizer o bem e for solidário com a classe menos favorecida poderá escapar ao seu destino. Dickens não é fatalista e ainda acredita no livre- arbítrio . Se o ser humano tomar consciência do que pode fazer por um mundo melhor ainda há uma saída. No final ,Scrooge  é salvo e salva as pessoas próximas a ele. Um final feliz e natalino, como deveria ser.

Nota:8

Tuesday 26 November 2013

O Amante de Lady Chatterley de D.H. Lawrence

Este mês o tema do desafio literário é livros banidos. Imediatamente me veio à lembrança este livro tão falado e elogiado e que nunca tinha lido.

É claro que o livro é bem escrito e além do mais precisamos lembrar que foi escrito em 1920. Apesar disto,  não consegui me envolver com a história por mais que tentasse. Achei os personagens sem glamour. Talvez a ideia fosse essa mesma, não sei. Achei as descrições intermináveis.  As discussões dos personagens a respeito dos avanços industriais, das relações entre homens e mulheres, e a luta de classes me entediaram. Não achei nem as descrições do sexo selvagem entre Connie e seu amante especialmente excitantes.

Já tinham me dito que ou se ama D.H. Lawrence ou se odeia. Bem, não posso dizer que odiei , porque preciso admitir que a escrita é elaborada e o tema era revolucionário no início do século XX. É apenas uma questão de gosto. Não vivi o livro, não me afeiçoei aos personagens, não me envolvi nas discussões do livro. Talvez numa outra época da vida.....

Nota: 5

Thursday 31 October 2013

A Culpa é das Estrelas de John Green

Comecei a ler o livro com muita desconfiança. Primeiro lugar na lista de mais vendidos (nem sempre um bom sinal). Um livro para jovens adultos (outra forma de se referir a adolescentes?) . Um livro sobre personagens sofrendo de câncer (deprê?). Realmente jamais leria este livro se não estivesse relacionado com o tema mensal do Desafio Literário e se não tivesse sido tão bem recomendado por uma colega de trabalho.

Preciso confessar que o livro me cativou. Não é que John Green escreve bem! Me apaixonei pelos protagonistas, Hazel e Augustus, altamente inteligentes e dotados de um senso de humor maravilhoso. A doença é apresentada de uma forma realista e sensível, mas em momento nenhum a história fica piegas ou sentimentaloide. Apesar de sabermos que o final certamente será infeliz, torci por Hazel e Augustus e comemorei as suas grandes vitórias.

O título do livro vem de uma fala de Cassius na peça Julio César de Shakespeare em que ele diz a Brutus que a culpa não está nas estrelas e sim em nós mesmos. Mas e no caso de dois adolescentes sofrendo de câncer terminal, onde reside a culpa? Nas estrelas?

O livro discute de uma forma leve e aparentemente despreocupada temas difíceis como :  qual o sentido da vida e da morte, qual  o verdadeiro amor,qual  o consolo para o sofrimento, o que é real, o que é a memória, o que é o tempo, qual o nosso papel no mundo.

John Green, você me surpreendeu. E me cativou definitivamente quando fez Hazel recitar , de cor, um dos meus poemas preferidos :The Love Song of J, Alfred Prufrock de T.S. Eliot. John Green sabe das coisas.

Nota:8


Tuesday 22 October 2013

O Clube do Livro do Fim da Vida de Will Schwalbe

Confesso que quase desisti do Desafio Literário neste mês. O assunto era 'superação'. Olhei a lista dos livros recomendados e o temas relacionados a doenças, acidentes e guerras não me animavam. Mas desistir na reta final do desafio. Não é da minha natureza desistir.

Saindo da ginástica passei na simpática livraria Timbre e conversei com a vendedora que já tinha me salvado em várias ocasiões em que estava na dúvida em relação a que livro comprar  para algum amigo. Contei o meu problema para ela e ela refeltiu por alguns momentos antes de sorrir e levantar em direção à estante. Me mostrou um livro que tinha acabado de ser lançado aqui no Brasil pela Objetiva. Era uma história verídica sobre as conversas entre uma mãe e um filho enquanto ele a acompanhava em suas sessões de quimioterapia. Não sei por que, mas o livro me interessou. Afinal de contas, era um livro sobre livros, e portanto relacionado ao meu desafio, e sobre doença, que seria um desafio maior ainda para mim, por ser um assunto  difícil para mim. O livro não me parecia ser baixo astral , e resolvi levar.

E, para minha surpresa, foi paixão á primeira leitura. Me encantei com os personagens, as suas histórias, as suas vidas, os seus livros. Fui imediatamente à Internet procurar uma entrevista com o autor, fotos da mãe , que foi uma ferrenha defensora de refugiados e imigrantes, para poder dar uma cara a Will e Mary Anne.

'Clube do Livro do Fim da Vida' é sobre amor aos livros, amor à vida e dedicação a causas e pessoas. Não li a maioria dos livros mencionados , mas isso não importa porque o que é interessante é a conversa a respeito dos tópicos e sentir como Will e Mary Anne se envolvem com os personagens e os enredos. Principalmente, o maravilhoso é  entender como os livros ajudaram a superar o sofrimento da doença e aceitar a certeza de que a vida estava realmente no fim. Ou como explica Will, todos nós fazemos parte do clube do livro do fim da vida. Só não sabemos quanto tempo levará este fim. E como não sabemos, devemos ler e saborear cada livro como se fosse o último. E compartilhar cada encontro e cada conversa como se fossem únicos.
Nota:10

Sunday 29 September 2013

O Códex 632 - José Rodrigues dos Santos


O tema deste mês no Desafio Literário é escritores portugueses contemporâneos. Claro que tenho vários livro de Saramago em casa ainda por ler mas aceitei a recomendação de uma outra participante do Desafio e li um autor que para mim era totalmente desconhecido.

O livro me foi apresentado como sendo um 'Código da Vinci' melhorado. É exatamente isso. Seguimos o historiador Tomás Noronha na sua investigação sobre Cristovão Colombo e a sua verdadeira identidade. Tomás decifra códigos, viaja pelo mundo em busca de pistas e ainda tem tempo de ter um caso extraconjugal.

O que me encantou no livro foi a cuidadosa pesquisa de José Rodrigues dos Santos antes de tratar de qualquer tema do livro. Tomás tem uma filha com Síndrome de Down e recebemos uma pequena aula sobre a doença.A amante de Tomás é sueca, e  o escritor nos relata vários aspectos desta cultura. As cidades que Tomás visita nos são descritas detalhadamente. O momento em que a praia de Ipanema nos é apresentada é hilário. Tomás vai se encontrar com um professor de filosofia e recebemos uma pequena aula sobre Kant e Foucalt. Passamos também a conhecer detalhadamente os bastidores dos descobrimentos.

Parece chato e demasiadamente didático? Absolutamente! Chato é quando José Rodrigues se alonga nos aspectos pessoais da vida de Tomás. Confesso que  ás vezes pulava certas partes. Queria chegar logo nas aulas deliciosas de José Rodrigues dos Santos.

E ainda tem a delicia de ler com sotaque. As expressões e as diferenças gramaticais do português de Portugal são uma curiosidade à parte. E é muito engraçado quando Tomás visita o Brasil e o autor tenta, sem sucesso, imitar o linguajar do brasileiro.

Nota: 8

Wednesday 4 September 2013

O filho de mil homens de Valter Hugo Mãe

"Um homem chegou aos quarenta e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo" .

 Então a história é sobre um homem que deseja ter um filho? Sim, mas não é um enredo linear e realista. 

Para Valter Hugo Mãe, nenhuma frase é descuidada, nenhuma palavra é desperdiçada. Os personagens falam pouco, mas dizem muito sobre solidão, preconceito, medos, aprendizados, amor. Uma anã, uma enjeitada, um maricas, orfãos, viúvos, solitários. Todos lidando com a sua solidão e a sua busca pela aceitação de si próprio e dos outros. Todos buscando a coragem de ser o que se é. Porque todos são filhos de mil homens e de mil mulheres e  assim nunca estarão sozinhos nesta viagem ao mesmo tempo complexa e simples que é ser humano. 

O filho de mil homens é um livro para ser saboreado. Cada frase deve ser digerida vagarosamente e devemos nos deixar perder dentro do labirinto narrativo. Um banquete para a mente e a alma

Nota:10

Sunday 11 August 2013

Hamlet de William Shakespeare

Tendo voltado de uma viagem à Dinamarca onde visitei o Castelo de Elsinore e, sendo o tema do mês no Desafio Literário 'vingança', a escolha natural só poderia ser Hamlet. Apesar da história ser tão familiar e ter assistidos a várias montagens da peça, nunca a tinha lido e me lancei à tarefa. Sim ,tarefa , pois ler Shakespeare no original não é nada fácil.

Primeiramente foi necessário ler vário trechos em voz alta. Shakespeare muda a ordem das frases, faz jogos com as palavras para conseguir uma rima desejada. Se escutarmos o texto , com a sua melodia e ritmo, ajuda imensamente. E claro, com o glossário do lado, para entender o inglês antigo. Confesso que muitas vezes achei a tarefa um pouco enfadonha, mas não queria ler uma versão modernizada. O soliloquio 'to be or not to be' não poderia ser simplificado. Precisava ser apreciado em toda a sua grandeza.

Naturalmente a história é maravilhosa e cheia de incertezas. Quem é o fantasma? É realmente a alma do velho Hamlet? É o demônio? É a  consciência do jovem Hamlete? É a sua loucura? Gertrude sabia do assassinato do marido? Por quê Hamlet trata Ofélia tão mal? Hamlet tem tantas dúvidas e incertezas , mas ao final da peça matou 5 pessoas. Qual a verdadeira personalidade de Hamlet então? Quais as interpretações políticas e psicológicas da peça?

Hamlet é uma das peças mais encenadas de todos os tempos. Entre os filmes temos é claro o Hamlet de Lawrence Olivier, o de Kenneth Branagh, o de Mel Gibson e o de Ethan Hawke (um Hamlet nos dias de hoje). Li sobre uma adaptação da BBC para a peça e está na minha lista de filmes para as próximas semanas. Achei o DVD no Espaço Itaú de Cinema de já está na prateleira. Entre as adaptações para o teatro temos o Hamlet de Wagner Moura e o de Thiago Lacerda. Cada adaptação , seja no cinema ou no teatro, aberta a novas interpretações e discussões. Como deve ser qualquer grande obra ,  sempre pronta para  interagir  com os diversos leitores inseridos no tempo e espaço.

Nota: 8




Sunday 30 June 2013

Gone Girl - Gillian Flynn


Uma colega de trabalho estava lendo outro livro da Gillian Flynn, e dizia não conseguir parar de ler de tão viciada e hipnotizada.  Comentei sobre o desafio literário e disse que o tema deste mês era romances psicológicos. 'Você precisa ler Gone Girl' , ela me disse.'É um thriller psicológico muito bom.' No dia seguinte o livro estava na minha mesa. Olhei-o com desconfiança. 415 páginas do que parecia ser um desses bestsellers sem muito conteúdo .

Gone Girl (em português Garota Exemplar)  realmente prende a atenção. O livro começa no dia do desaparecimento de Amy e o principal suspeito é o marido Nick. O primeiro capítulo tem como narrador  Nick que começa descrevendo o que aconteceu no dia em que Amy sumiu. O segundo capítulo vem de um diário de Amy, e começa uns 7 anos atrás. Até o final, o capítulos se alternam. Um narrado pelo Nick, outro  escrito por Amy. Os capítulos são curtos , e a linguagem ágil. Impossível parar de ler. Impossível não querer saber o final. Sim, o livro não deixa de ser um thriller, mas o livro é  acima de tudo uma descrição minunciosa da psicologia de uma psicopatia. E não posso falar absolutamente mais nada pois estragar o final é um pecado capital.

O livro certamente não é literatura de alta qualidade. No entanto, é entretenimento de alta qualidade , e tem o seu valor. Geralmente não leio livros deste tipo, e confesso que , às vezes, tenho um pouco de preconceito por achar que estou perdendo tempo. No entanto, como um dos objetivos do Desafio Literário é lermos livros que normalmente não leríamos , devo dizer que este objetivo foi plenamente alcançado. Devorei Gone Girl com muito orgulho. Há muito tempo não lia um livro com tamanha rapidez.

Nota: 8

Saturday 8 June 2013

Levels of Life - Julian Barnes

O tópico este mês no Desafio Literário é 'Romance Psicológico'. Um tema bem abrangente e um dos gêneros que me agradam mais. Difícil a escolha, portanto resolvi ler dois livros que ganhei de presente.

O primeiro é Levels of Life, o último livro de Julian Barnes. Não é fácil descrever o livro que é um misto de ficção, ensaio e memórias. A linha narrativa só faz sentido no final e de aí  forma contundente, libertadora.

Julian Barnes fala dos três níveis da vida: as alturas, a terra , e o subterrâneo. Para descrever as alturas ele conta a história dos primeiro balonistas , suas aventuras, e o desenvolvimento da fotografia aérea. O segundo nível é retratado através de uma história de amor entre dois desses balonistas, um deles a famosa Sarah Bernhard. É uma história de amor que na verdade não se concretiza. O nível subterrâneo é o seu relato sobre a sua  dor em lidar com a  morte da mulher. No final tudo se junta de uma forma magistral e Barnes volta a frases e episódios dos dois capítulos anteriores.

Barnes descreve a sua dor sem cerimônia, sem subterfúgios, sem vaidade. Todos nós conhecemos alguém que perdeu um ente muito querido, mas muitas vezes nos protegemos do sofrimento alheio, por medo ou ignorância. Barnes nos obriga a olhar a morte e a perda de perto e por ela não estar  nem mascarada nem dramatizada, conseguimos encará-la e compreender quando Julian diz ' a dor é proporcional a quanto valeu a pena'. Se valeu a pena há dor, e então a dor vale a pena.

É uma leitura de difícil compreensão pois só faz sentido no final e definitivamente não é uma leitura leve. Mas a escrita de Barnes é admirável e o seu depoimento de uma sinceridade admirável.

Nota: 10

Thursday 30 May 2013

O Sol É Para Todos - Harper Lee

Quando tinha uns 20 anos comecei a ler O Sol É Para Todos. Abandonei lá pela página 50 , achando que seria apenas um livro moralista e piegas sobre racismo . E talvez fosse mesmo, sob o meu olhar de então. Talvez não conseguisse mesmo ultrapassar a camada aparentemente simples da história.

O Desafio Literário 2013 me deu mais uma chance. O tema deste mês é 'Livros citados em filmes', e O Sol É Para Todos é um livros sugeridos. Não vi o filme no qual é citado, e nem me lembro do nome do filme. O livro, no  entanto ficará na minha memória por muito tempo.

Como seria possível não me encantar com Scout, Jem e Dill e a sua trajetória rumo ao conhecimento. As três crianças deparam-se com situações nas quais é necessário perder a inocência e compreender que existe o bem e o mal, e que muitas vezes as suas fantasias são apenas explicações para o desconhecido.

Harper Lee nos transporta para a cidadezinha do Alabama e e nos sentimos parte da vizinhança. Passamos a conhecer de perto os vizinhos da família Finch . Torcemos e sofremos juntos.

O título em inglês é "To Kill a Mockingbird", e o pássaro do título simboliza os seres frágeis que são destruídos pelo mal. Há vários Mockingbirds no livro e estes são esmagados por um sociedade que condena a inocência e as diferenças. Apesar de o livro oferecer um final razoavelmente feliz, pois as crianças conseguem ver a existência do bem onde menos esperavam, Harper Lee não inocenta os moradors de Maycomb já que eles descriminam , sem piedade, os seus Mockingbirds. E como uma das vizinhas diz para Scout :"Matar um Mockingbird é um pecado, pois o seu único papel no mundo é cantar sem parar" .

Recomendo a leitura e agora quero assistir ao filme com Gregory Peck.

Nota:10

Sunday 19 May 2013

Portrait of a Marriage de Nigel Nicolson

Quando a escritora Vita Sackville-West morre em 1962, o seu filho Nigel tem como tarefa arrumar os
seus documentos e escritos. Ele aí encontra  cartas e um  diário que descreveria os seus amores e  tormentos .

Estes documentos, guardados em vida , mas claramente escritos para um outro leitor, revelam uma vida repleta de desejos proibidos. Revelam também o seu grande amor pelo marido Harold , que aceitou e acolheu os seus complexos anseios.

Vita sentia desejo por outras mulheres e  viveu casos intempestivos com algumas. Violet, seu caso mais duradouro trouxe grande paixões , mas também grande sofrimento. Se apaixonou por Virginia Woolf, que escreveu orlando em sua homenagem.

Nigel explica porque resolve tornar pública a história da sua mãe. Escreve para o futuro, quando espera que a sociedade aceite melhor os homossexuais e compreendam que não é  uma escolha e sim uma realidade da qual é impossível escapar. Harold compreendeu isso e construiu com Vita um casamento de 50 ans. Um casamento pleno de respeito, verdade e muito amor.

A  biografia de Vita, que alterna entre os diários de Vita e os capítulos escritos por Nigel, é fascinante quando pensamos que isto tudo se passou no início do século 20. O livro nos traz um depoimento comovente de espíritos ao mesmo tempo livres e presos aos costumes vigentes.

Nota:8

Sunday 21 April 2013

Verão - J.M. Coetzee

Quando terminamos o livro , fica a pergunta : é uma  ficção ou uma autobiografia? E é justamente isso que o livro se propõe a discutir. O que é a história de uma pessoa senão  relatos e interpretações? Relatos da própria pessoa e relatos das pessoas com que conviveu. Interpretações de uma verdade variável.

No livro, o inglês Vincent resolve escrever uma biografia sobre John Coetzee, já falecido. E para isso entrevista pessoas que fizeram parte da vida do biografado: uma vizinha  amante, uma prima, a mãe de uma aluna, e dois colegas de trabalho.  Através destas conversas , vamos conhecendo um Coetzee deslocado em sua terra natal, desajeitado nas relações amorosas e familiares, desconfortável com as suas emoções. Mas, mais de que a Coetzee, vamos conhecendo as pessoas entrevistadas e nos envolvendo nos seus dramas . Pois cada  vida e formada de inúmeras camadas e quanto mais escavamos mais conhecemos.

E afinal. o que é a vida de um escritor? Nada mais do que  o resultado da sua educação e da sua inserção geográfica e histórica. Não há nada de heroico ou revolucionário na sua obra. Pelo menos é o que Coetzee nos revela na sua ficção/autobiografia. Os dias dos grandes escritores, cujo papel é mudar o mundo, não existe mais. Uma visão um tanto fatalista e sombria.

Nota: 9





Thursday 28 March 2013

O Gato que veio para o Natal de Cleveland Amory

O tema do Desafio Literário deste mês é 'livros cujo protagonista é um animal'. Não é o estilo de livro que costumo ler, e por esse motivo mesmo, fiquei animada. Pesquisei, perguntei para amigos, vi as sugestões no site do Desafio e acabei resolvendo ler o livro do título.
Um livro sobre um gato! Sou daquelas pessoas que não gosta especialmente de gatos. Tenho até um certo medo. Uma vez , na casa de um namorado, enquanto ele tomava banho, seu gato subiu em cima de mim, deitou em cima do meu peito e ficou me encarrando, olho no olho. Fiquei aterrorizada, mas não perdi a pose. Outra vez, na casa de uma prima, enquanto assistimos aos primeiros episódios da segunda temporada de Lost, seu gato subiu no encosto da cadeira e ficou me encarando durante as completas 2 horas em que ficamos olhando para a telinha. Minha prima parecia achar isso a coisa mais natural do mundo, então, mais uma vez, resolvi fingir que também achava e que claro que o gentil gato não iria me atacar.
Como fica claro, a minha relação com os gatos é um tanto ou quanto tensa. Então, para tentar me redimir, vamos ao livro.
Cleveland Amory  descreve, de uma forma divertida e detalhada, a sua relação com um gato que salvou da rua na noite de Natal. Descreve o primeiro banho, a escolha do nome , a primeira viagem, e  as  muitas idiossincrasias do felino. Cleveland também faz parte de Fundo para Animais e descreve  o seu envolvimento em várias causas.
No final do livro, nos apaixonamos por Urso Polar e nos sentimos mais próximos de todas estas pessoas que lutam pelos animais e os seus direitos. Uma leitura deliciosa! Recomendo .
Nota: 7

Sunday 17 March 2013

Cinquenta tons de cinza de EL James

A trilogia de E.L. James pode quebrar o recorde de vendas de Harry Potter. Harry Potter, apesar de não ser grande literatura era razoavelmente bem escrito e fez com que jovens do mundo todo fizessem fila , na porta das livrarias, no dia do lançamento de cada volume. Isto, perante uma geração acostumada a ficar horas a fio diante de uma tela, já é um grande feito.
Não, definitivamente não dá para comparar!
O que faz de um livro sobre BSDM chegar ao número um na lista de mais vendidos? Sinceramente não sei responder.
O livro é muito, mas muito mal escrito. Talvez a tradução para o português tenha ficado até melhor, mas em inglês parece escrito por uma adolescente. Sem desmerecer os adolescentes. E.L. James tem expressões e frases que repete infinitamente durante o livro todo. Quase que comecei a contar as vezes que escrevia 'It's hot' e que se referia à sua 'inner Goddess'. Mas o problema não é a escritora escrever mal. Li em qualquer lugar que ela acalentava um sonho, há muitos anos ,de escrever um romance . E que esperou os filhos crescerem blah, blah, blah... E aí escolheu este tema bizarro e realizou o seu sonho. Muito nobre, e nada contra. O problema é o enorme sucesso. O que é que fez tanta gente, inclusive eu, ler o livro?
Será que é um destes estranhos efeitos do boca a boca que quanto mais gente lê, mais gente irá ler. É que nem restaurante cheio. Talvez o do lado, mais vazio, seja até melhor e até mais barato, mas o cheio vai encher cada vez mais . Me parece que sim, porque a maioria das pessoas que eu conheço não gostou. Mas leu!
Bom , e quanto ao BSDM? Na verdade, a história é um romance açucarado e a relação dominante- submissa não convence muito. Pelo menos , não neste primeiro volume. O mocinho , Christian, é lindo, rico, inteligente, carinhoso. Só tem uma pequena mania ,que é amarrar e chicotear as parceiras. O tema é até interessante e poderia ter sido bem construído em outras mãos mais eficientes. Mas , aí incomodaria muito e não chegaria à lista dos mais vendidos. James trata do tema  de uma forma superficial e, sempre depois de um episódio de BSDM  o leitor é presenteado com romantismo e caretice.
Fica então a pergunta: qual o motivo do enorme sucesso? Será que no fundo o que a mulher do século 21 quer é um homem lindo, rico e inteligente que a subjugue? Não acredito que seja essa a razão. Vou ler o segundo volume para ver se descubro. E aí vou acrescentar mais um leitor ao número já exorbitante de leitores desta trilogia.

Nota: 4

Saturday 2 March 2013

As Mentiras que os Homens Contam - Luís Fernando Veríssimo

Quantas mentiras contamos por dia? Talvez não nos damos conta, mas contamos pequenas e grandes mentiras no nosso dia a dia. Isto quer dizer que o ser humano é essencialmente deshonest, disleal, fraudulento?
Luís Fernando Veríssimo nos dá uma descrição bem humorada de vários tipos de 'mentiras' contadas pelo ser humano. Na introdução ao livro ele defende este ato, dizendo que os homens mentem para o bem dos outros, e principalmente para o bem das mulheres.

  • Como não nos identificarmos com a primeira história. O que fazer com a famosa pergunta 'Você não se lembra de mim?'. É melhor sair correndo mesmo pois todas as opções de resposta estão fadadas ao fracasso. 
  • E quando a mentira parece mais crível do que a verdade. É hilária a história do homem que perde o anel no bueiro. A mulher não vai acreditar. Melhor contar o que parece mais provável.
  • E quando " que maravilha' quer dizer "que horror" , e isto sim é uma maravilha. Esta é a 'mentira semântica' da arte kitsch.
  • E o blefe que é a mentira permitida no pôquer. O problema é que algumas pessoas acham o blefe admissível na vida real. Mas aí tem outro nome.
  • O que fazer quando somos pegos naquela mentirinha que contamos para não ir no jantar do amigo. Às vezes é preciso mentira após mentira após mentira.....
  • Cuidado ao responder à pergunta: 'Você conhece o escritor.......' Pode ser um brincadeira. É melhor passar por ignorante do que por idiota.
  • E tem momentos em que é melhor não encarar a verdade. A mentira tem mais glamour!
Em 40 mentiras Luis Fernando Veríssimo traça uma crônica ao mesmo tempo impiedosa e caridosa deste ser humano criativo e complexo . Humano, demasiado humano.

Nota: 7

Sunday 17 February 2013

O Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams

Há muito tempo que escutava falar no Guia do Mochileiro mas nunca imaginei que seria o tipo de livro que me agradaria. O Desafio Literário deste mês é ler livros que façam rir. Bom, resolvi tentar ler o tal 'Guia'. Uma grande bobagem, acreditei. Mas vamos lá.
Qual a minha surpresa  quando descobri que o livro é genial. O humor é afiado e totalmente irreverente. Descobri que :

  • toalhas são imprescindíveis para uma viagem pelas Galáxias .
  • os golfinhos sabem de mais coisas do que nós , humanos.
  • a resposta para ' a pergunta' é 42 . Só que não sabemos qual é a pergunta.
  • jamais devemos deixar um Vogon ler poesia.
  • ratos brancos podem não ser ratos brancos.
  • nunca devemos entrar em pânico.
  • todas as canetas esferográficas vão para um planeta distante.
  • a  maioria das coisas não é o que aparenta ser.
Como pude passar tantos anos não sabendo disto tudo?

Douglas Adams, através do seu humor escrachado, faz críticas aos governos, ao poder, à cultura, à tecnologia, ao sentido da vida.

Dá vontade de ler novamente e sublinhar todas as frases geniais.

Nota 9


Saturday 9 February 2013

O Santo e a Porca de Ariano Suassuna

O Santo e a Porca é uma peça cômica  sobre o duelo entre o sagrado e o profano na vida dos seres humanos. Euricão, o avarento, está sempre diante desta escolha : a porca (o profano) e Santo Antônio (o sagrado). Pela sua natureza avarenta ele esconde a sua fortuna dentro da porca, tenta casar sua filha com um homem rico e explora seus empregados sem pagar um salário. As suas escolhas não ficam sem punição e Euricão perde tudo. Sofre a traição do destino, e precisa aprender a lição para poder se redimir.

À primeira vista, a peça pode parecer farsesca e simples. Mas um olhar mais atento nos mostra indagações profundas e uma rica caracterização da cultura popular do nordeste. O ritmo é ágil e os personagens bem definidos. Temos : o avarento, a noiva apaixonada, o noivo apaixonado, a noiva recatada, a empregada ardilosa, o velho solitário , o representante do povo. Caroba, a empregada ardilosa, tece a trama  e a cada instante temos um fato novo seja com os noivados , seja com o desaparecimento e surgimento da porca.

No final da peça Euricão se pergunta:

Bem e agora começa a pergunta. Que sentido tem toda essa conjuração que se abate sobre nós? Será que tudo isso tem sentido? Será que tudo tem sentido? Que quer dizer isso, Santo Antônio? Será que você tem a resposta? Que diabo quer dizer isso, Santo Antônio?

Euricão perde a sua fortuna material mas ganha a oportunidade de se espiritualizar. Os outros personagens ganham , de Santo Antônio, um casamento.

Nota 10

Tuesday 5 February 2013

The Importance of Being Earnest de Oscar Wilde

O tema deste mês no Desafio Literário 2013 era 'livros que nos façam rir'. Achei o tema difícil. Não me lembrava de ter lido muitos livros no passado que me tivessem feito rir. Seria eu uma pessoa sisuda, mal humorada, de pouco riso?

Pensei , pensei no assunto, e como não queria aceitar que fosse desprovida de humor, me coloquei diante da tarefa de achar livros engraçados.

A minha primeira escolha não poderia ter sido mais acertada. A peça The Importance of Being Earnest de Oscar Wilde é genial. Através de seus personagens, Wilde faz a sua crítica à Aristocracia, Critica a sua hipocrisia, seus preconceitos, seus valores morais, sua visão do casamento, sua futilidade. Os diálogos são nonsense, seus personagens carecendo de qualquer lógica ou senso comum.

Como leitora, me deliciei com o enredo intrincado, onde todos enganam todos, e Wilde não redime ninguém.
O humor é bastante inglês e usa muito jogo de palavras portanto não sei como será a tradução (A Importãncia de ser Prudente) e se parte do humor se perde. No entanto, recomendo o livro como uma grande obra de humor inteligente.

Nota 10


Saturday 2 February 2013

Freedom - Jonathan Franzen

Há muitos tempo que estou querendo ler o livro Freedom de Jonathan Franzen. Quando resolvi fazer o Desafio Literário 2013 http://desafioliterariobyrg.blogspot.com.br/ , e o tema para janeiro era livre, achei que era o livro ideal. Freedom como opção de tema livre.
As 700 páginas me assustaram um pouco, e depois de ter concluído o livro, continuo preferindo os livros mais curtos, que você acaba com um gostinho de quero mais. Mas isso já é outra história que posso desenvolver em uma outra ocasião.
O livro foi saudado pela crítica como o romance do ano, talvez do século; o romance sobre o mundo pós 9/11; o romance social.
Comecei o livro esperando muito, e passei o livro inteiro esperando algo mais grandioso. Não que o livro seja ruim, de forma nenhuma, mas é basicamente a história de um casamento e seus percalços. Sim, como pano de fundo temos o 9/11, a guerra do Iraque, a defesa do meio ambiente, a superpopulação, a crise da energia, a crise dos estados Unidos, as diferenças entre Democratas e Republicanos, a era Obama. E não temos nenhuma dúvida de qual a posição política do escritor. No entanto, a história que seguimos é a de Patty, Walter, seus pais, seus irmãos, seus filhos, seus amantes, seus amigos . É o livro sobre uma família que, já no início de livro nos é apresentada como sendo estranha.
Quanto ao título, a noção de liberdade aparece no decorrer da trama. O livro trata da liberdade dos seus personagens, mostrando o que eles fazem, ou deixam de fazer com ela. A liberdade é uma liberdade de escolher, e com cada escolha existe uma consequência. Apesar de Jonathan Franzen não julgar os seus personagens, algumas escolhas, que poderiam ser consideradas erradas, têm consequências também consideradas ruins. No final fica a sensação de que Jonathan Franzen se curva ao moralismo Norte Americano e ao tão cultuado Happy End.
Nota : 7